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Épocas difíceis trazem rupturas, interrupções e reveses, mesmo para os mais bem-sucedidos. Empresas de maior êxito também enfrentam fases em que são surpreendidas pelo produto de uma concorrente e precisam se mobilizar. Equipes esportivas que vencem com frequência estão, muitas vezes, atrás no placar. Escritores podem passar por dezenas de rejeições antes de encontrar um editor que os coloque no mapa. Alguns políticos de sucesso são pegos com as calças na mão e ainda assim seguem em frente até chegar a posições de liderança, embora essas manchas autoinfligidas dificilmente sejam esquecidas.
Somente flexibilidade não é suficiente. É preciso aprender com os erros. Aqueles que edificam a resiliência sobre os alicerces da confiança: responsabilidade (assumir a responsabilidade e demonstrar arrependimento), colaboração (apoiar os que buscam um objetivo em comum), e iniciativa (concentrar-se nas etapas positivas e nas melhorias). Como descrito em meu livro Confidence, esses fatores dão sustentação à resiliência das pessoas, das equipes e das organizações – elas podem tropeçar, mas voltam a vencer.
Para quem quiser ir além das adversidades ou recomeçar em vez de desistir, os Estados Unidos são a terra da segunda chance. De acordo com Jon Huntsman, antigo embaixador americano na China, a capacidade americana de se recolocar de pé é uma qualidade amplamente admirada pelos chineses. E, em todo lugar, recuperar-se de um desastre natural é, cada vez mais, fundamental para uma economia forte. Empreendedores e inovadores precisam estar dispostos a fracassar e tentar de novo. A questão não é aprender a fracassar, mas sim a se recuperar. Alguns tropeços se devem a fatores que fogem do controle da maioria das pessoas, como eventos climáticos e confrontos geopolíticos. E embora as pessoas não possam controlar o problema maior, controlam suas reações a ele – se vão desistir ou encontrar um novo caminho.
A recessão na Europa é um exemplo. Recentemente, falei para uma audiência europeia, em conferências públicas e em empresas, sobre o cultivo da resiliência em seus negócios, mesmo quando o mercado está encolhendo, para que consigam se manter enquanto a recessão continua e estejam em boa situação para a recuperação. Uma empresa alemã de maquinário demonstrou resiliência aumentando seus contratos de serviços quando a demanda por máquinas diminuiu, o que mobilizou os empregados a buscar novas possibilidades. Uma firma italiana de cosméticos arrebanhou talentos de empresas multinacionais e aumentou sua propaganda de produtos de saúde e moda em outros países, o que deu origem a novas vendas.
Nas duas empresas, e em outras que pesquisei, tais iniciativas foram possíveis graças a um forte senso de determinação que aproximou os funcionários e os motivou a assumir a responsabilidade de auxiliar as empresas a sobreviver e a prosperar. Os empregados eram resilientes porque gostavam da empresa, e isso a tornou resiliente. Complacência, arrogância e ganância impossibilitam a resiliência. Humildade e ideais nobres a alimentam. Aqueles com genuíno desejo de servir, não somente vontade narcisista de chegar ao topo, estão dispostos a aceitar menos, fazendo disso um investimento para conseguir coisas melhores no futuro.
Raymond Barre, ex-premiê francês, depois de perder a reeleição, disputou a prefeitura de Lyon, uma cadeira mais modesta, e se tornou um herói na região. É a mesma estratégia adotada por Eliot Spitzer, que concorreu a um cargo bem menos importante depois de ter sido governador do estado de Nova York. Logo que o escândalo sexual no qual esteve envolvido veio à tona, Spitzer rapidamente demonstrou arrependimento e então retomou a vida pública discutindo o assunto, o que aumentou suas possibilidades de recuperação.
Dizem que para as mulheres a recuperação é mais difícil. Ainda assim, pensemos no caso de Martha Stewart. Ela cumpriu pena por inside trading elegantemente, demonstrando remorso, e essa elegância fez com que conseguisse, depois, reconquistar muitos de seus fãs.
A resiliência é extraída da força de caráter, do cerne de uma série de valores que motivam esforços para superar reveses e retomar o caminho do sucesso. Envolve autocontrole e capacidade de reconhecer o próprio papel em uma derrota. A resiliência prospera quando existe senso de comunidade – vontade de se levantar decorrente do sentido de obrigação para com os outros e graças ao apoio daqueles que também querem atingir o mesmo objetivo; manifesta-se em ações: uma contribuição nova, uma pequena vitória, um objetivo que desvia a atenção do passado e cria uma expectativa em relação ao futuro.
Problemas eventuais espreitam em toda esquina e se originam de eventos naturais inesperados, fracassos ou erros individuais. Seja qual for a origem, o que importa é a forma de lidar com eles. Quando as surpresas são a regra, a resiliência é a nova arma.
Fonte: http://hbrbr.uol.com.br/surpresas-sao-a-regra-e-a-resiliencia-e-a-nova-arma/
Editado em: 04.06.2017